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sábado, 30 de junho de 2018

A maldição do petróleo

Por Domingos Miranda

Perguntaram a um grande empresário americano qual o melhor negócio do mundo. Ele respondeu: a exploração do petróleo bem administrado. O repórter emendou: e qual o segundo empreendimento mais lucrativo? O bilionário não teve dúvida: o petróleo mal administrado. Por isso que os países que têm grandes reservas petrolíferas podem alcançar a riqueza ou serem vítimas da cobiça das grandes potências. Governantes que não seguiram a cartilha dos dominadores tiveram fins trágicos, tais como Mossadegh, no Irã, Saddam Hussein, no Iraque, e Kadhafi, na Líbia. A Venezuela está no olho do furacão e seu destino ainda não sabemos.

Charge de Latuff

O Brasil, com o descobrimento das grandes reservas do pré-sal, passou a ser grande produtor de petróleo e já entrou no rol dos amaldiçoados do ouro negro. Uma série de fatos mostra que os Estados Unidos passou a dar atenção especial a esta nossa riqueza. Em 2008 foi reativada a Quarta Frota da marinha americana, encarregada de vigiar o Atlântico Sul, em um momento em que o Brasil assumia um protagonismo geopolítico na região e as relações dos EUA com a Venezuela estavam em uma crise profunda seis anos após o golpe fracassado para depor o presidente Chavez.

Neste período três golpes aconteceram contra governantes progressistas: Honduras (2009), Paraguai (2012) e Brasil (2016). O afastamento da presidenta Dilma Roussef foi o que trouxe maiores dividendos para o imperialismo. A economia do país foi colocada em leilão e grandes empresas petrolíferas internacionais passaram a explorar os campos do pré-sal descobertos pela Petrobras. Com a abolição da legislação que permitiria repassar parte dos royalties referente à exploração do petróleo para a saúde e educação, nós jogamos fora o nosso futuro. A indústria naval voltada para a indústria petrolífera foi sucateada e passamos a exportar óleo cru e importar gasolina e diesel, enquanto 30% das refinarias estão ociosas.

Alcançado o seu principal objetivo, assenhorear-se da nossa riqueza do pré-sal, o Tio Sam parte para outra etapa, pois a sua ganância não têm limites. Estão armando a invasão da Venezuela, que possui a maior reserva de petróleo do continente. O governo americano dá todo apoio logístico às forças de oposição venezuelanas, mas elas não conseguem ganhar as eleições. A saída será, então, a ofensiva direta, como fizeram no Iraque e na Líbia. Para isso articulam o apoio de países vizinhos, tais como Brasil, Colômbia e Peru. O Brasil já tem experiência nesta triste parceria, pois em 1965 se aliaram às tropas americanas na invasão à República Dominicana.

A estratégia consiste em criar, paulatinamente, as bases para um futuro cerco militar à Venezuela, utilizando os territórios dos países vizinhos. Pela primeira vez na história, o exército americano, a convite do governo brasileiro, participou de exercícios militares na tríplice fronteira (Brasil, Peru e Colômbia), em novembro de 2017, simulando a criação de uma base multinacional na floresta amazônica. No final de junho o vice-presidente americano Mike Pence visitou o Brasil e alcançou uma importante conquista. Os EUA poderão utilizar as instalações da base aeroespacial de Alcântara, no Maranhão. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso foi feita uma tentativa semelhante, mas que não frutificou devido aos protestos gerados.

Como um vira-latas que aceita bajular seus donos em troca de um osso, o governo brasileiro se ajoelha diante daquele que o colocou no poder. A situação é tão humilhante que até políticos de sua base de sustentação reclamam. O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, do PSDB, se recusou a receber Pence durante sua passagem pela capital amazonense. Postou em seu twitter: “Respeite a soberania do meu país e o brio do povo amazonense. Não aceito a intervenção militar, nem por brincadeira”.

A maior potência imperialista deveria aprender com a história, pois teve que sair com o rabo entre as pernas do Vietnã, numa guerra de agressão que durou mais de dez anos. A Venezuela tem um passado de lutas desde as guerras da independência, onde conseguiu expulsar a Espanha, um inimigo muito mais bem armado. Naquela época, quase um terço da população morreu nas batalhas. Em 2002, quando uma parte da elite das forças armadas se aliou com o inimigo americano e derrubou o presidente Chavez, a população das favelas desceu em massa dos morros de Caracas e restituiu o poder a seu legítimo representante. De lá para cá os conflitos entre os dois países se agravaram.

O Brasil, que ao longo de sua história republicana, teve por norma não interferir em conflitos com as nações vizinhas, não pode entrar nesta política suicida dos americanos de invadir um país irmão. O povo venezuelano não vai aceitar pacificamente o roubo de sua maior riqueza: o petróleo. Lá a situação será bem diferente daqui, onde as sete irmãs conseguiram abocanhar o nosso petróleo sem que fosse necessário disparar um único tiro. Os brasileiros devem ficar alertas para não cair nesta arapuca. Os americanos cobiçam uma riqueza bilionária e querem usar nossos soldados como bucha de canhão. Vamos ser solidários à luta do povo venezuelano. Tirem as mãos da Venezuela.

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